The New Abnormal

The New Abnormal

Ouça o novo disco:

Tradução – Julian Casablancas e Karen O

Dia 25 de setembro, no site da Time Out, saiu a entrevista de Karen O e Julian Casablancas. Eles se encontraram a pedido da revista e a tradução completa, você lê a seguir!

julian karen

Sentado numa poltrona com Julian Casablancas e Karen O, eu sou claramente um intruso. A nosso pedido, os ícones dos Strokes e Yeah Yeah Yeahs trocam perguntas numa entrevista no bar Sons of Essex, falando de tudo desde o amor por Dirty Dancing até as rivalidades da cena do rock nova iorquino em 2001. Depois de 30 minutos, direciono a conversa para Tyranny e Crush Songs, seus novos álbuns solo, respectivamente, ambos lançados pelo selo de Casablancas, Cult Records, mas isso só provoca olhares (deles) e constrangimento geral (meu). Casablancas finalmente endereça minha pergunta, chamando de “um pouco rude”. Ele, então, graças a Deus, sorri e toca minha mão, tranquilizando: “não quero dizer isso, você é um cara legal.” Ainda assim, decidi cair fora.
Estamos, é impossível esquecer, há dois blocos do Mercury Lounge, onde um quinteto de caras desalinhados com um visual retrô e um louco trio de dois-caras-e-uma-garota meio punk alcançaram um status mítico na Nova Iorque pré 11/09. Treze anos depois, ambas as bandas permanecem como favoritas dos fãs. (Yeah Yeah Yeahs foi headline no Barclays Center ano passado e The Strokes ficaram com um sábado prestigioso no Governors Ball em junho.) A imprensa, porém, tem sido pouco gentil com os Yeahs e Strokes recentemente, com respostas mornas aos recentes esforços de estúdio que não combinavam com o impacto – e para ser justo, como poderia? – de Yeah Yeah Yeahs e Is This It, as estreias históricas das bandas em 2001.

A conversa entre O (nome real Orzolek) e Casablancas não passa nem perto desses discos. Apropriado, porque nem estão aqui para promover os discos solo: Tyranny é um disco escuro e denso, de mais de uma hora, Crush Songs, um conjunto de 25 minutos de esboços íntimos encantadores com referências de folk lo-fi e pop de grupo-de-menina. Esteticamente, eles parecem brotar de um lugar similar: aquela hermética, ousada, alheia zona comercial de onde discos solo de artistas que fizeram nome com outras bandas supostamente vem.

Apesar de suas história paralelas, acontece que O e Casablancas não se conhecem bem – eles são mais como fãs distantes. Não que a conversa extremamente íntima seja uma indicação.

 Karen O: Bem, quem vai primeiro? Quer jogar uma moeda?

Julian Casablancas: Eu não tenho uma, mas tenho um isqueiro da Cult Records que posso jogar. [Pega o isqueiro, que funciona como um drive USB e tem o Tyranny completo]. Então você quer cara, com a logo, ou coroa?

O: Quero cara.

Casablancas: joga o isqueiro, que cai coroa] Okay, só lancei uma vez, então me deixe fazer um pouco mais. [joga o isqueiro no ar, cai no assento]. Sim, coroa duas vezes.

O: O que significa?

Casablancas: Acho que eu escolho? Vou primeiro, com uma pergunta que preparei pra você. Você gosta de Radiohead?
O: Eu gosto de Radiohead, sim. [risos]

Casablancas: Vi um cara andando que parecia Thom Yorke, e pensei, será que ela gosta de Radiohead? Você gosta deles um pouco? Muito?

O: Thom Yorke é muito especial. Ele me pega com seus vocais. Não acho que é só porque sou uma cantora, porque escrevo música, também, mas tendo a gravitar para a voz mais que qualquer outra coisa na música. E a do Thom Yorke é imensa. O resto…

Casablancas: Uma droga? Não, estou brincando.

O: [risos] Posso perguntar agora? Acho que já perguntei antes, mas por que você não se apresenta com um instrumento?

Casablancas: Tem um elemento de performance em que eu gosto de me perder, e acho que a coisa técnica de tocar um instrumento e cantar é como andar numa corda bamba. Teria que prestar atenção pra não cair da corda, e só quero poder rodopiar como um idiota e [canta, estala] “shoo-bop-dop” – dar o fora se eu quiser, apontar pra alguém, fazer piadas melódicas ou com as letras durante a música. E também, queria que cada guitarra fizesse alguma coisa louca que é quase muito difícil de fazer e cantar ao mesmo tempo.

O: Você é bom em tocar coisas? [risos]

Casablancas: [inexpressivo] Sou muito bom. No início, sempre quis escrever coisas. Era minha fantasia. Gostava de compositores e músicas mais complexas. Bandas como Doors. Mas realmente queria escrever todas as partes. Então entrei na música e queria tocar, mas sabia desde o começo que nunca gostaria de tocar um instrumento na frente das pessoas. Não sou particularmente habilidoso com isso, é muita pressão. Basicamente aprendi a tocar pra escrever, e uma vez que escrevo, eu esqueço e quase nunca toco.

Casablancas:  Minha vez? Você afundou meu navio de guerra. Você acredita em vida em outros mundos?

O: [risos] Sim, definitivamente sou uma crente em vida em outros mundos.

Casablancas: Então, só estranhos planetas de árvores ou conselhos inteligentes de, tipo, pessoas formigas? [risos] Ou algum tipo de criatura do mar?

O: Sim, estou mais inclinada a, tipo, aquelas coisas que ficam saindo do mar em The Abyss. É o que gosto de pensar – mais do que Alien ou algo do tipo. Talvez estejam já aqui, e eu nem sei.

Casablancas: Aqui? O que você quer dizer?

O: Como se houvessem aliens aqui agora mesmo. Talvez estejam vivendo aqui.

Casablancas:  Então você acha que há aliens entre nós, é o que você está dizendo? [risos]

O: [risos] Eles bem poderiam estar. Podemos estar sentados perto de um agora mesmo.

O: Então que arte inspira mais a sua música? Pra mim, provavelmente filme em primeiro e poesia em segundo.

Casablancas: Além dos comerciais Coors Light… quando é sobre música, não é uma resposta muito interessante, mas eu provavelmente direi música. Quando é sobre a vida em geral, grandes discursos ou grandes livros. São o tipo de coisa que me fazem querer bater com o punho na mesa. Tem um jeito de dizer em uma palavra? Bater na mesa? Soou terrível. Isso me fez querer…

O: Bater na mesa? [risos] Uma das razões por que perguntei é que o novo disco com The Voidz me transporta pra outro lugar, e parece como um filme de ficção científica distópica pra mim. Há algum filme que direcionou sua mira pra isso?

Casablancas: Direcionou minha mira? Gosto disso. Filmes? Hm… muitas das sequências dos teasers que você está falando filmamos com uma camera VHS. Quando olho pra trás para quando estávamos fazendo isso, é como Repo Man ou algo do tipo.

O: Sim, ou The Warriors ou Escape from New York.            

Casablancas: Sim, tem um documentário… quando estávamos gravando, tinha uma TV no mudo passando um bocado de filmes aleatórios legais, estranhos e outras coisas. Um muito bom era 80 Blocks from Tiffany’s. É um documentário sobre gangues no Bronx, nos anos 1970.

Casablancas: Minha vez? Você gosta do filme Dirty Dancing?

O: Sim, gosto. Eu adorei o filme quando saiu – realmente. Patrick Swayze…

Casablancas: Johnny Castle, você quer dizer? Costumava ser meu nome falso para hotéis, se eu precisasse de um.

O: Ele era um grande dançarino. Jennifer Hudson, antes do trabalho no nariz.

Casablancas: Jennifer Grey?

O: [risos] Oh, desculpe.

Casablancas: Sou tipo um expert nesse filme. Nem sei como sei isso.

O: Acho que tinha a trilha sonora e tudo. Era fã de trilhas de filmes quando criança.

Casablancas: [inexperssivo] Bom uso da música naquele filme.

O: [risos] Mas sabe, sendo uma garota jovem que não era bonita, ou popular na escola, essa era uma fantasia: você sai pras férias de verão com sua família, e esbarra nessa coisa legal, sexy… um tipo de reinvenção de si. Eu absorvi isso, basicamente.

O: Então isso é algo que me deixa bastante curiosa – é algo que gosto de falar com outros compositores. As letras vem fácil pra você?

Casablancas:  [risos] Ah, sim. [risos] Não! É a parte mais difícil.

O: Por isso gosto de falar a respeito.

Casablancas: Meu maior problema com letras, saindo pela tangente: nunca gostei realmente – não desgostar, mas pessoalmente como músico não poderia dar merda nenhuma para teatro musical. Os dois musicais que gosto são The Wall e Jesus Christ Superstar. Fora isso, não gosto. Mas entendo porque as pessoas gostam, porque há expressão na melodia que pode dizer mais que uma coisa. Mesmo que alguém apenas cante [ele canta] “Hello, how’s it going?” a melodia pode meio que dizer “Oh, ela realmente o ama ou está assustada com o cara”. Estou falando disso porque acho que traduz como o significado das próprias palavras se transforma pela melodia e performance, então você pode escrever a linha mais profunda e mais legal, e cantar e então soa artificial…e “ooh, baby, baby, baby…” por alguma razão, funciona, é mais poderoso.

O:  Quando você percebeu isso, a propósito?

Casablancas: Não sei – luto com isso constantemente, porque não quero dizer, “Ooh, baby, baby, baby”; quero dizer…o que for. “Liberdade para os heatseekers*” vem à minha cabeça. Mas não funciona, não soa bem, arruina a melodia, soa pesado. E estou apenas, vou cantar “Ooh, baby, baby, baby” e o significado das minhas músicas foi totalmente pra m***. Tenho um filho de 4 anos, não sei porque estou falando palavrões. Eu falei antes também.

O:  Então, leva um tempo para você escrever as letras? Você pode ser um pouco prolífico ao escrever? Se você checar minhas músicas, mesmo em Crush Songs, são geralmente em torno de seis, sete frases…

Casablancas: Mas acho que você chegou ao melhor ponto. Tem uma citação de Abraham Lincoln. Ele escreveu uma carta longa – estou provavelmente massacrando toda a história e a citação – e ele disse, “Se fosse um grande poeta, poderia dizer tudo isso em, tipo, duas linhas.” E acho que é o verdadeiro poder…Quando funciona melhor, é realmente uma coisa simples. É como estava dizendo sobre aquela linha em seu show [no Manderley Bar, Hotel McKittrick] na última noite. O que era? “Don’t you ever have enough” (“Você nunca tem o bastante”)?

O: “Didn’t you ever have enough.”

Casablancas:  Certo, mas é meio que intenso e escuro, e você continua repetindo de novo e de novo. E me fez, pessoalmente, pensar sobre aquela coisa na vida que você nunca deve se contentar, mas você deveria. Se você se contentasse, seria muito mais feliz, mas é nossa natureza sempre – é só um instinto de sobrevivência, está profundamente enraizado em nosso código. Mas é realmente como se você tiver comida suficiente e uma relação legal, você deveria parar e apreciar. Então é aquela coisa quando a melodia e a música tem apenas uma linha…porque se você acabou de cantar, [ canta num estilo de teatro musical alegre] “Você nunca teve o bastante?” no começo da música, seria apenas uma linha inútil. Ainda seria boa, mas a forma como você colocou sob um holofote, é um turbilhão de pensamentos intensos, como minha vida toda brilhando à minha frente, e o que os humanos deveria tentar ser, tudo numa única linha. É isso que eu amo no seu disco. Acerta na cabeça. Você diz essas coisas simples que são como uma tonelada de tijolos atingindo você profundamente. É por isso que me esforço.

O: Yeah, eu considero você um dos maiores letristas desde que estou por aí.

Casablancas:[em descrença] Que? Não é verdade. Obrigado.

O: Algumas das músicas que você escreveu. E as letras são sublimes.

Casablancas: Como a banda Sublime? [risos]

O:  Por isso estava curiosa sobre seu processo.

Casablancas: A melhor coisa que acontece é que às vezes quando está tocando uma música, as palavras se formam. E acho que você tem que estar num modo lírico, e é quando as melhores coisas acontecem – quando você está pensando sobre letras e escrevendo letras, e você está naquele estado mental. E então você está lançando uma música ou tocando em estúdio, e aquele momento vai acontecer quando você está cantando a melodia e você diz algo que [traduz] como você se sente mas realmente muda com a melodia. É isso: você pode pensar na melhor linha que [traduz] como você se sente, mas pode não emergir de sua melhor melodia. Então geralmente é enquanto você está tocando a música que o melhor momento lírico acontece. Mas eu também basicamente escrevo a maior parte das letras quando estou sentado ou andando aleatoriamente na sua. Ou alguém vai dizer uma linha estranha, eu vou ouvir errado, e vai soar meio secreto, profundo, e eu vou escrever então quando estou passando uma música e tem essa parte sem letras, eu vou saber o que encaixa. É uma mistura desse tipo de patchwork que acontece naturalmente.

O: É difícil pra caramba escrever letras.

Casablancas: Escrever boas letras.

O: Sim, alguém que realmente acerta…

Casablancas: É difícil escrever boas letras que sejam significantes. É difícil não escrever letras ruins e fingir e ter uma coisa sem significado que soa legal. Isso te leva a um nível profundo e tem um significado profundo mas apenas soa bem e você pode apreciar levemente.

O: Lou Reed era bom nisso.

Casablancas: Oh, cara. Ele é o melhor. Quando eu tinha 19, ele estava fazendo um sessão de autógrafos na Barnes & Noble, e nós fomos. Ele estava indo embora, quase perdemos. Então eu só agarrei um dos livros – nem sabia se teria dinheiro pra pagar – o parei, você sabe? E ele estava totalmente esquisito e maravilhosamente insano.

O:Sangria in the park”, cara.

Casablancas: Ele é o rei.

Casablancas: As pessoas costumavam sempre me perguntar sobre ‘a cena’ [em Nova Iorque]. Sinto como se tivesse mais uma cena agora. Estou falando de todas essas bandas legais e músicos. Antes, eram apenas bandas tentando.

O: E acho que estar em Nova Iorque na época que Nova Iorque não estava no mapa, era realmente fácil fazer música só porque você queria, sem nenhuma expectativa. Mas agora, é impossível, quase em lugar algum, não ter expectativa.

Casablancas: Acho [nos conhecemos] no nosso show no Mercury Lounge?

O: Foi muito cedo.

Casablancas: Nenhum de nós tinha assinado. E vocês tocaram antes de nós?

O: Sim.

Casablancas: Eu lembro de vocês tocando, mas eu estava, tiop, nervoso antes do nosso show, então era difícil… como te disse, antes dos shows eu só…

O: Oh, cara, sim.

Casablancas: Ver [Yeah Yeah Yeahs] foi tipo, isso é legal – o que está acontecendo aqui? Um guitarrista. Foi algo original

O: Eu vi vocês tocaram antes daquele show no – tenho certeza que foi – Don Hill’s. Foi um show bem cedo. Você estavam usando ou um blazer azul ou um de veludo roxo.

Casablancas: Acho que eu tinha um vermelho da Levi’s.

O: Pensei que era de veludo. Poderia ser só minha memória, mas sinto como se você tivesse a gola levantada e eu só podia ver seus olhos, e as lapelas estavam cobrindo seu rosto, e você tinha o microfone aqui, e você estava definitivamente suado e desgastado. Haviam murmúrios sobre sua banda na época, então foi a minha primeira vez como expectadora.

Casablancas: Você estava checando seus futuros rivais?

O: Sim, e você foi um rival por um bom tempo.

Casablancas: Eu definitivamente não [vejo dessa forma].

O: Claro que não, porque você estava no topo! Você estava dominando a escola.

Casablancas: Yeah, mas seu último disco foi enorme. Você sabe, é engraçado, porque tínhamos bandas assim, como Mooney Suziki. E Guided by Voices era, tipo, o grande momento.

O: Sim, eu lembro de me sentir assim na época.

Casablancas: Merda, eu não sabia. Bem, nós não nos conhecíamos.

O: E era meio que um clube de garotos na época, então sempre me senti meio que a ovelha negra, mas num bom sentido. Eu usei isso para crescer.

Casablancas: Eu fui ver o [seu] show Stop the Virgens, e sou só um fã. Tínhamos nos conhecido, tínhamos tocado em alguns festivais e ditto oi, mas nunca realmente saímos até recentemente.

O: Sinto como – e falei com Josh Homme [Queens of the Stone Age] sobre isso também – às vezes as pessoas à frente não se conectam. É como dois ímãs que são positives [repelem um ao outro]. Só nos meus trinta anos eu fiz um esforço para me conectar com outros, e é incrível, porque eu me relaciono! Eu meio que desejo que tivesse feito isso quando era mais jovem e insegura.

Casablancas: Acho que com nossas outras bandas, e eu não posso falar por você, uma vez que você chega a ponto das pessoas entendem que é uma entidade bem sucedida, todas essas outras coisas entram em jogo, e a parte artística definitivamente não é tão pura. Se todas as pessoas na banda pudessem ficar no mesmo estado mental com as outras…

O:  O que é realmente difícil, a propósito. Depois de estar numa banda por tanto tempo, é um desafio… você começa realmente puro em uma banda, certo?

Casablancas:  Sim, com certeza.

O: Mas é um processo constante, tentar reter tanto quanto você pode, mas há tantas coisas que entram em jogo que complica. Com o que eu fazia, nunca foi realmente a intenção de ser ouvido, então era mais a decisão de lançar, que era a coisa toda, em vez de realmente escrever a música, se isso faz algum sentido.

O: Qual seu restaurante favorito em Nova Iorque?

Casablancas: Tem um lugar que eu acho muito legal. Não tenho certeza de como falar: Emilio’s Ballato.

O: Sim, eu conheço. É virando a esquina da minha casa.

Casablancas: Aquele lugar é muito legal. Parece um legítimo Little Italy.

O:  Não vou lá há muito tempo.

Casablancas: Aquele era um lugar onde muitos aniversários e coisas foram comemoradas.

Casablancas: É engraçado porque eu acho que o 11 de setembro fez algo. Dois anos depois, o mundo meio que se reuniu [em Nova Iorque], parece. Foi algo horrível, mas por alguma razão, acho que toda a cena do Brooklyn como é agora veio da evolução de pessoas que migraram depois do 11 de setembro.
[gentrificação] pode acontecer, em alguma situação utópica, se há uma compreensão das causas indiretas do que a está criando. Pessoas brancas podem ter um brunch todo dia, todo o tempo, em cada rua se isso não contribui indiretamente…Não estão maldosamente contribuindo com o problema, mas são parte. Então quando isso cresce ntão exponencialmente dentro desse tipo de bolha pré revolução de Versailles, é ofensivo pra mim, me irrita. E é um problema, e eu acho que as pessoas dentro da bolha, mais que ninguém, devem perceber o que está acontecendo, e essa é a única maneira de melhorar as coisas. É um pouco chato – todos os bancos, e todas as coisas velhas e legais tem que sair porque eles não podem pagar o aluguel. Mas isso sempre aconteceu ao longo da história. Está bom. Eu não me importo com isso num vácuo, mas é parte de um problema maior. Acho que as pessoas estão começando a perceber lentamente, eu acho, então veremos.

Não sei. Provavelmente um monte de pessoas vem a Nova Iorque e lê Time Out pra descobrir a que restaurantes ir, então eu não quero ser como, [ameaças de mentira] “Saia!” Não é isso. As coisas sempre vão mudar. É apenas que o espírito de Nova Iorque sempre teve uma coisa balanceada. Era legal ter diferentes vizinhos coexistindo e uma visão do que o mundo poderia ser. Como um bairro legal onde não é perigoso, mas não viver em um luxo que indiretamente significa que o próximo lugar vai viver em extra depressão. Então é isso – é esse sanduíche de luxo, e está saindo um pouco de controle, acho, de uma forma que não é culpa de ninguém. Mas fazer isso sem consciência dos efeitos negativos – é exatamente essa a questão com tudo no mundo. Liberdade é uma coisa vaga, não é como a liberdade de balear alguém no rosto. Não, é liberdade sem machucar outras pessoas, e acho que não é um conceito que qualquer pessoa entenda.

O: Isso foi muito bem articulado. Tenho sentimentos parecidos, mas eu não saberia colocar em palavras. Mas isso captura como me sinto sobre isso também. Por outro lado, numa observação mais leve, eu tenho ido mais à ópera.

Casablancas:  O teatro da ópera é incrível.

O: E experimentando coisas culturais de Nova Iorque que eu nem sabia a respeito ou não estava consciente nos meus anos mais jovens. A generosidade cultural da cidade não mudou em nada. Tudo que você tem a fazer é levantar o véu um pouco. É o melhor.

Casablancas: Ainda é maravilhoso. 100%.

O: Não estou apenas indo a bares, estou aproveitando essas outras coisas.

Casablancas: …diz ela, de um bar. [risos]

 
* heatseekers:
Uma expressão que se refere a um ranking de músicas ou álbuns, organizados pela revista Billboard
Fonte: Time Out, por Hank Shteamer e fotografias de Jake Chessum

Tradução: Equipe TSBR