The New Abnormal

The New Abnormal

Ouça o novo disco:

Tradução: Entrevista com Nick Valensi

 

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Foto por Amanda de Cadenet

 
Em 2006, Nick Valensi concedeu uma entrevista por telefone a Daniel Robert Epstein, do site SuicideGirls, uma página dedicada a publicar material e fotos eróticas de garotas estilo pin up.  A seguir, nossa tradução:

Daniel Robert Epstein: Hey, Nick, onde você está hoje?

Nick Valensi: Estou no Brooklyn, Nova Iorque. Onde você está?

Daniel: Astoria, Nova Iorque. Somos rivais.

Nick: Sim, somos rivais, mas também estamos intimamente ligados.

Daniel: Então, você estará no Saturday Night Live amanhã à noite.

Nick: Sim, estaremos no SNL. Tivemos uma agenda agitada nos últimos dois ou três meses.

Daniel: Vocês vão participar de algum dos esquetes do SNL?

Nick: Acho que não. Eles não nos pediram [risos]. Mas no ensaio de ontem, filmamos umas duas chamadas para comerciais.

Daniel: Eu vi, são realmente engraçados. Aquele personagem de Horatio Sanz’s é realmente perturbador.

Nick: Sim, cara, é pior ao vivo. Mas estivemos realmente ocupados e eu sinto como se não tivesse tempo suficiente no dia. Você conhece a sensação?

Daniel: Eu tive isso hoje.

Nick: Me parece que falei com umas duas pessoas hoje que tiveram dias agitados. Talvez seja o ciclo astrológico mesmo que eu não acredite realmente nessas coisas.

Daniel: Acho que é o aquecimento global.

Nick: Ok, culpe-o por isso. Então, suicidegirls.com, é um site pornô, né?

Daniel: Um pouco mais tipo Playboy que pornô. Você visitou o site?

Nick: Sim. Uma vez eu estava olhando por cima do ombro da minha namorada enquanto ela estava no computador e no monitor haviam essas garotas tatuadas e sem blusa. Eu pensei o que diabos você está fazendo? O que você está olhando? Ela estava vendo SuicideGirls. Ela é fotógrafa, então achei que ela talvez estivesse procurando pessoas para fotografar.

Daniel: Com certeza ela estava.

Nick: [risos] mas sim, eu vi o site. Eu não sou um assinante, então não tenho permissão para ver tudo.

Daniel: Temos que te dar uma assinatura. O último álbum dos Strokes, Room on Fire, não foi tão bem recebido quando o primeiro, então você deve estar empolgado para First Impressions of Earth.

Nick: Estou, mas é difícil pra mim avaliar isso, porque estou no olho do furacão. É difícil dizer quanto ou quão poucas pessoas gostam de um álbum. Mas parece estar indo bem. Este disco nos deu nosso primeiro “número 1” na Inglaterra, o que foi muito legal. Nossos primeiros dois álbuns atingiram o número 2 no Reino Unido e este último estreou em primeiro então isso foi bastante importante para nós. O sentimento na banda é um pouco diferente agora do que era há dois anos. As coisas estão mais confortáveis. Acho que todos estabelecemos nossos papeis individuais na banda e também a banda coletivamente se estabeleceu na música moderna. Quando começamos, as coisas sempre pareceram nervosas e frenéticas. Havia sempre essa atitude apressada em direção às coisas, como se tivéssemos que fazer as coisas depressa e não tivéssemos tempo a perder. Estava lá essa energia nervosa nos circundando o tempo todo. Isso passou e foi substituído por uma atmosfera descontraída.

Daniel: Usar o termo “mais madura” para se referir a uma banda é um clichê, mas soa apropriado.

Nick: As pessoas dizem que é um terceiro álbum maduro. Pra mim, a música não soa mais ou menos madura ou imatura que Room on Fire soa musicalmente. Mas como você disse, é um clichê terrível dizer “maduro”, mas não podemos evitar que como indivíduos, todos crescemos um pouco. Não temos mais 19 anos. Estamos levando a vida de maneira diferente então eu acho que isso teve que se traduzir para o que fazemos e as pessoas percebem isso. Mas quando ouço o disco, eu não ouço músicas de 30 e alguma coisa. Ainda é nossa música, não mudou tanto.

Daniel: “Maduro” também significa que quando vocês estão prestes a jogar um sofá pela janela de um hotel, vocês param pra pensar um pouco?

Nick: [risos] Nós nunca jogamos um sofá pela janela. Fizemos algumas coisas bem clichês rock and roll, mas nunca fomos tão longe.

Daniel: Se eu ficasse famoso, a primeira coisa que faria seria jogar coisas pelas janelas do hotel.

Nick: Sim, eu nunca fiz isso. Uma vez recebi algumas contas sobre estragos em um hotel em Las Vegas, para dizer assim. Nada nunca foi jogado pela janela.

Daniel: Qual seu sentimento em relação a Room on Fire, comparado com First Impressions?

Nick: A principal diferença pra mim é o valor da produção do novo disco. As pessoas estão fazendo uma grande coisa, como se tivéssemos mudando nosso som e amadurecido um pouco, mas pra mim as canções foram escritas na mesma linha. Não é como se tivéssemos ido de post punk pro jazz ou reggae, ainda está no mesmo gênero. A produção é um pouco mais profissional do que nos nossos trabalhos anteriores. Pra mim, Room on Fire realmente se destacou e é realmente bom. Eu acho que se tivéssemos mais tempo para trabalhar nisso, teria sido muito melhor. Mas não é o mesmo que dizer que não gosto dele, eu realmente gosto. Eu acho que em 15 ou 25 anos quando as pessoas olharem pra trás, Room on Fire vai ser um dos favoritos. Acho que ele vai envelhecer bem como um bom vinho.

Daniel: O que o produtor David Kahne acrescentou?

Nick: Um certo profissionalismo. Ele conhece o caminho para o estúdio da forma que eu conheço meu caminho para o banheiro da minha casa. Eu vinha ao estúdio todo dia sentindo que havia algo a ser exigido de mim então eu tive que tocar meu melhor o tempo todo. É porque havia esse cara profissional conosco que estava esperando isso. Não tinha espaço para entrar e ficar parado e tocar sua parte de qualquer jeito porque havia expectativas. Isso foi muito bom porque nunca tivemos disciplinadores conosco antes. Posso te colocar em espera por um segundo?

Daniel: Claro.

Nick: Desculpe, Daniel. Eu acabei de conseguir um novo lugar no Brooklyn então me mudei há uma semana. Ainda há alguns ajustes para fazer em minha casa e eu estava falando com meu empreiteiro, que é um coreano muito legal. Estou no meu quarto falando com você ao telefone e ele veio com algumas amostras de tinta pra mim [risos]. Eu não sei se é uma coisa cultural, mas parece que desde que ele está trabalhando aqui ele se sente em casa. Ele me mostrou algumas amostras e disse “ah, minha filha quer saber o nome da sua banda” [risos].

Daniel: Você disse a ele?

Nick: Eu tentei, mas ele é da Coréia então é difícil me comunicar com ele algumas vezes, ele quer que eu escreva.

Daniel: Cuidado, ou ela vai aparecer na sua casa com todos os amigos.

Nick: É, ela poderia.

Daniel: De volta a 2001, parecia que vocês eram a segunda vinda de Jesus. Era impossível evitar os Strokes. Como vocês mantiveram a cabeça no lugar?

Nick: Tivemos um tempo difícil quando começamos. As coisas aconteceram muito rapidamente pra nós e tudo era tão novo e excitante. Foi uma experiência única, mas tivemos um tempo difícil lidando uns com os outros. Parecia que quanto mais rápido as coisas aconteciam, menos comunicação tínhamos entre os membros da banda. Muito ressentimento ficou, sobre coisas como o que um tinha dito ou o que outro falou em uma entrevista. Houve muitas dificuldades como essas.

Houve momentos em que estávamos na estrada por oito meses, não tínhamos estado em casa há muito tempo e estávamos fisicamente e psicologicamente exaustos. Todos queriam ir pra casa e tivemos esses momentos em que estávamos apenas seguindo a onda. Eu acho que isso teve muito a ver com o fato de não termos nos aberto sobre o que queríamos realmente como banda e o que sentíamos ser capazes de fazer sem perder a cabeça. Todo mundo estava super empolgado no começo e isso foi prejudicial porque fizemos compromissos que não poderíamos cumprir. Então todo mundo estava chateado.

Tivemos que fazer um enorme esforço para recuperar, pra voltar e falar tudo. Apenas para colocar todos na mesma página porque estava ruim quando estávamos em turnê pelo Room on Fire e mesmo quando estávamos gravando o Room on Fire. Parecia que cinco pessoas na banda estavam em cinco páginas diferentes e todos estavam indo em diferentes direções. Levou um longo período pra gravar o terceiro disco.

Daniel: Vocês tiveram encontros oficiais da banda pra todos falarem novamente?

Nick: Não, isso aconteceu gradualmente durante a gravação do álbum. Não temos reuniões da banda per se, é mais como quando estamos sentados e trabalhando nas músicas. Vamos para o estúdio por 12 horas, mas realmente só tocamos por seis ou sete dessas horas. O resto do tempo é gasto falando sobre coisas.

Daniel: Uma vez que você só tem crédito por escrever uma música, como o álbum se torna pessoal para você?

Nick: Cada música é um pouco diferente nesse sentido. Para a maior parte, o que acontece é que Julian vem com uma progressão de acordes e a melodia para acompanhar ou talvez só um riff estranho. Então todos trabalhamos daí. A escrita é uma coisa complicada porque, na maior parte, todos escrevemos nossas próprias partes. Ninguém me diz que parte da guitarra tocar, Fab escreve sua parte da bateria. Então todos fazemos o arranjo da música juntos, mas em termos de escrever as letras e vir com a melodia, eu diria que 85 a 90% do tempo é o Julian que faz. Especialmente neste disco, ele trouxe coisas que eram tipo o esqueleto. Ele poderia estar ao piano cantando algo ou ocasionalmente estaria ao violão e estaria cantando algo que ele gostaria de mostrar pra banda. Então há inúmeras direções que você pode seguir. Alguém te mostra uma melodia e uma progressão de acordes, você pode fazer soar heavy metal, ou country, o que for. Dessa vez tivemos sorte porque realmente tivemos tempo de levar as músicas a diferentes direções antes de escolher uma.

Daniel: Além de obviamente tocar seu instrumento, qual seu papel na banda?

Nick: Essa é uma pergunta difícil. Você pode ter que perguntar para os outros caras sobre isso. Eu acho que sou musicalmente competente. Eu me sobressaio adaptando coisas que são um pouco complicadas e navegando em territórios musicais complicados.

Daniel: Li que Heart in a Cage vai ser o próximo single.

Nick: Está certo.

Daniel: Quando vão gravar o vídeo?

Nick: Meu alarme está marcado para amanhã às 8 para a filmagem.

Daniel: Vocês não têm que ir ao SNL amanhã à meia noite?

Nick: Sim, é. Como eu disse, estamos mesmo ocupados. Não estou brincando, cara, é louco.

Daniel: Quem vai dirigir o vídeo?

Nick: Sam Bayer. Ele fez todos os vídeos de Green Day para American Idiot.

Daniel: Eu falo mais com bandas menores que The Strokes. Como uma banda imensamente popular, que novos poderes vocês têm?

Nick: Você quer fazer as coisas do seu jeito. Eu descobri, especialmente nesta indústria, um compromisso leva a outro compromisso que leva a outro compromisso. Então você se descobre em uma situação que você nunca quis em primeiro lugar. O contrato de gravação que temos nos garante total liberdade pra gravar como quisermos. Nunca temos uma pessoa no estúdio, não há uma pessoa da gravadora chegando e dizendo “oh, sabe, mude os vocais aqui, ou faça a tarola** soar mais alto no refrão”, não temos nada disso.

Daniel: O que First Impressions of Earth significa pra você?

Nick: [risos] Eu não sugeri isso. Julian sugeriu o título e eu realmente gosto, mas não tenho ideia do que significa pra ele. Eu ouvi algumas coisas sobre como é a respeito de alienígenas vindo à Terra pela primeira vez. Pra mim, gostei quando ele apareceu com o título porque sinto como um novo começo pra nós. Outra primeira chance de certo modo. O conceito de uma primeira impressão parece pra mim como se tivéssemos uma segunda chance.

**tarola: parte da bateria

*Daniel Robert Epstein faleceu em junho de 2007, aos 31 anos de idade.

Fonte: She’s fixing her hair

Tradução: Equipe TSBR