The New Abnormal

The New Abnormal

Ouça o novo disco:

Tradução – ClashMusic resenha “Tyranny” de Julian Casablancas + The Voidz

Tyranny
Uma saudação com o dedo do meio ao seu passado…
Por Benji Taylor
Seria uma coincidência que Julian Casablancas, conhecido líder e cantor dos roqueiros indies mais cool de NY The Strokes, compartilha das mesmas iniciais que Jesus Cristo?
Casablancas é um messias musical: um homem que fez um dos melhores álbuns de lançamento de todos os tempos – “Is This It?” de 2001 – uma bíblia aural que aspirantes a deuses do rock têm bajulado e copiado desde então. No entanto, como a história nos ensina, sociedades rotineiramente se tornam contra seus salvadores, e certas seções da imprensa musical têm crucificado Casablancas a cada lançamento desde aquele astronômico primeiro disco.
“Tyranny” é o disco de estreia com a nova banda The Voidz, e marca um emocionante Novo Testamento em seu cânone. Ele é uma bizarra e maravilhosa mistura de assinaturas de tempos estranhos, estruturas musicais nada convencionais e, em geral, uma loucura desenfreada. Ele funciona porque, tentando priorizar o estado de espírito sobre a melodia, estilo sobre substância e, citando o próprio Casablancas, “vaidade sobre sabedoria” (“vanity over wisdom”), o LP acaba enlaçando todos esses atributos.
A glória coroada do álbum é a épica faixa de 11 minutos que abrange diversos gêneros, e primeiro single, ‘Human Sadness’, o auge criativo da carreira de Casablancas fora dos Strokes até agora. Musicalmente, tematicamente, estilisticamente: é o ‘A Day In The Life’ / ‘Band On The Run’ para ‘The Modern Age’.
A preocupação da temática central de “Tyranny” é o modo como a sombra feia da tecnologia está gradativamente invadindo todos os aspectos de nossas vidas, e sendo usada como uma tática de manipulação Orwelliana. “Come here, shut down and tune in tonight / Learn the words that they teach you without you realising it / Come here sit down and watch some TV…” (“Venha cá, cale-se e sintonize hoje / Aprenda as palavras que eles te ensinam sem você perceber / Venha cá, sente-se e assista a TV um pouco…”) ele sussurra em certo momento, o que é definitivamente o seu registro vocal em “Tyranny” – um falsete de codificador de voz deformado, coberto de poeira.
O desprezo pela tecnologia moderna também está espelhado na produção sórdida de Shawn Everett – soando como se fosse masterizada usando tecnologia da era ZX Spectrum*. Depois de várias audições repetidas, não fique surpreso se você começar a se imaginar como protagonista de um jogo de computador.
“Tyranny” lamenta outras influências corruptas também. O terrível e destruidor de almas poder do dinheiro é um tema constantemente construído entre as faixas: “Tomorrow is laughing, money breeds tyranny,” (“Amanhã está sorrindo, dinheiro gera tirania,”) nosso homem lamenta em ‘Xerox’, enquanto na introdução de ‘Human Sadness’ você ouve um aviso sinistro “Put money in my hand / And I will do the things you want me to.” (“Coloque dinheiro na minha mão / E eu farei as coisas que você quer que eu faça.”) A sombra da recente morte do pai de Julian também assombra as paisagens sonoras, notavelmente nos versos finais do primeiro single: “All the time he waits for me / And now we talk from time to time.” (“Ele sempre espera por mim / E agora falamos de vez em quando.”)
Tendo sido rotulado por tanto tempo não é de se admirar que Casablancas esteja fazendo de tudo para desafiar e subverter as expectativas. Há uma grande dose de autorreflexão neste LP, e em um ponto durante a angústia existencial de “Human Sadness”, ele mostra desdém por seu passado: “I hear echoes of my old self / This is not the way to be / All at once I lost my way.” (“Eu ouço ecos de meu velho eu / Esta não é a maneira de ser / Eu perdi o meu caminho todo de uma só vez.”)
No entanto, ouvintes atentos irão perceber nuances de seu trabalho prévio no meio da confusão: ‘Johan Von Bronx’ tem ecos de ‘Happy Ending’ de 2013, e o maníaco, torturado outro de ‘Nintendo Blood’ tem cochichos de ‘Machu Picchu’ de 2011.
Em grande parte, porém, este é o som de Casablancas dando uma saudação com o dedo do meio ao seu passado.
Nota: 7/10
*Microcomputadores europeus de 8 bits de 1980
Tradução: Equipe TSBR
Fonte: clashmusic.com