The New Abnormal

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Entrevista – Um americano em Paris: Fabrizio Moretti

 

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Dia 10 de julho, foi publicada aqui no Elledérive uma entrevista com Fabrizio Moretti, sobre seu tempo em Paris. Leia nossa tradução logo a seguir:

Você vive em Paris já faz um ano. Quando descobriu a cidade pela primeira vez?

Eu vim com minha família quando era pequeno, mas ainda tenho algumas lembranças daquela visita. Para mim, era só mais uma grande cidade, ou uma outra viagem em família. Por outro lado, eu lembro perfeitamente quando vim em 2002 com os Strokes. Nossa banda estava começando, e ficamos em um hotel perto do Gare Du Nord. Eu andei bastante pela cidade e pensei “Tem uma energia forte nessa cidade, um dia vou morar aqui”.

Por que decidiu se mudar pra cá?

Eu precisava de um tempo pra pensar sobre o que iria fazer da minha vida. A banda estava em uma espécie de ‘hiato’, e eu me senti meio preso na rotina em Nova Iorque. Eu estava só vendo as pessoas que saíam e viviam uma vida de excessos e estava cansado disso. Mas eu não sabia onde ir! Então eu lembrei do que senti naquele pequeno hotel perto da Gare Du Nord, e lembrei da promessa que fiz a mim mesmo.

Primeiro, eu estava tão perdido quando cheguei! Eu pensei: “F*, o que estou fazendo aqui?” (risos). Mas então conheci Liz, um ilustrador que estava apaixonado por música, e nós começamos a trabalhar juntos em um projeto artístico que chamamos FUZLAB, um afresco de alguns metros, evocando o mito de Teseu e o Minotauro. Este trabalho me permitiu muitas coisas: primeiro, me deu um objetivo, então Luz e eu construímos uma amizade sólida, e finalmente, me deu um novo olhar sobre criação, e mudou minha forma de fazer música.

Como assim?

Eu me tornei mais disciplinado na bateria. O trabalho de um ilustrador requer flexibilidade nas mãos, e o de um baterista também, e eu trabalhei nessa flexibilidade. Além disso, quando você desenha, você não sabe realmente onde está indo, mas você tem que dizer a si mesmo que está indo em direção a algo lindo. Eu aprendi a aplicar a mesma abordagem de confiar no improviso na música.

Paris é uma cidade inspiradora, para um artista?

Sim, definitivamente. Os museus são tão ricos, e a arquitetura é incrivelmente bem preservada também. Você pode sentir que está em um lugar atemporal. Essa atemporalidade encoraja você a pensar que o que você cria também é atemporal. Não me entenda errado, não significa que eu crio coisas incríveis. Mas aqui, eu sinto que posso ir mais longe ao explorar minha criatividade. Eu posso ir em direção à fantasia. Sabia que William S. Burroughs escreveu Naked Lunch em Paris? Ele costumava passer um bocado de tempo na Shakespeare and Co.

Quais seus outros locais usuais?

Eu moro no 3º arrondissement*, e saio pela vizinhança. Vou tomar café no Fragments. Eles fazem um café ótimo. No almoço, às vezes vou ao Merci. Sim, é um pouco esnobe, mas as pessoas que gerenciam o local são muito doces. E pra jantar, eu amo o Nanashi, é tão bom!

Outra coisa que adoro fazer em Paris é visitar os museus à noite. O Louvre, Orsay ou Pompidou: é fabuloso ir lá quando a noite cai e está tão calmo, sereno.

O que você acha da imagem veiculada pela mídia internacional da mulher parisiense – livre, sofisticada, chique e boêmia ao mesmo tempo?

É uma pergunta difícil pra mim, porque quando eu ando por aí ou conheço as pessoas, não importa pra mim se são homens ou mulheres. Mas – e talvez isso se deva ao fato de não ser bilíngue e não compreender completamente o que as pessoas estão dizendo – eu tenho a impressão de que as pessoas aqui são mais mente aberta, mais tolerantes à excentricidade.

Mais que em Nova Iorque?

Sim, absolutamente.

Falando em excentricidade, qual a coisa mais maluca que você vivenciou em Paris?

Eu estava com Luz. Depois de abrir a exibição FUZLAB, fomos convidados à casa de alguém que não conhecemos, o filho de um alto funcionário libanês, alguém rico. Era em um apartamento luxuoso em Île St Louis. Não sei porque, mas Luz estava vestido de branco aquela noite. Depois de algumas bebidas (era quando eu ainda bebia, isso está no passado agora), começamos a fazer bagunça. Tinha uma grande tigela de melado, e começamos a usar pra pintar as roupas brancas de Luz, enquanto dançávamos. O filho do oficial libanês achou impressionante, e estava gritando: “estamos festejando no inferno!” (risos). Estávamos bem limpos e arrumados quando fomos à festa, mas quando saímos estávamos cobertos de melado, no meio da noite, no coração da Île St Louis. Foi um absurdo total, mas uma grande lembrança de riso histérico.

*arrondissement: divisões administrativas da cidade de Paris.

Fonte: Elledérive Paris

Tradução: Equipe TSBR