The New Abnormal

The New Abnormal

Ouça o novo disco:

Fabrizio Moretti para Drumhead – tradução

Em 15 de maio de 2020 saiu essa entrevista de Fabrizio Moretti para Charlie Weinmann, do site Drumhead. A gente traduziu – faz tempo, não é mesmo? – e trouxe pra vocês.

Um comichão de 7 anos – Fabrizio Moretti dos Strokes sobre o disco mais recente em 7 anos

Já se foram 7 anos desde que Strokes lançaram Comedown Machine. Muito pode mudar em 7 anos, e para uma banda se reunir depois de tanto tempo pra criar algo novo é algo a se admirar. Para o baterista da banda, Fabrizio Moretti, reestabelecer uma sintonia com os companheiros de banda com quem ele cresceu era exatamente o que ele precisava depois de fazer música mais ou menos por conta própria desde 2013. Apesar do tempo que passou, The Strokes foram capazes de criar suas novas músicas com a ajuda do lendário produtor Rick Rubin, que soa familiar a seus sons e ainda traz uma nova energia e vida. O novo disco, The New Abnormal, parece apropriadamente batizado para o momento, embora tenha sido finalizado antes da pandemia tomar o mundo. Conversei com Moretti no último dia de abril sobre sua experiência fazendo o disco, se reconectando com a banda, e sobre outro projeto em que ele está trabalhando, que ele projetou pra ser inclusivo a artista de todo o mundo.
CW: Como a quarentena tem sido pra você? O que te mantém ocupado?
FM: Música, e eu estou aprendendo a cozinhar, e tenho feito algumas pinturas em paralelo. Tenho lido. Tem sido difícil, cara, vou te dizer. Tenho sentido por todo mundo.

Concordo. É uma sorte estar saudável e poder fazer coisas como cozinhar. Estou contente que você está saudável.
Sim, há essa tristeza subjacente, que durante esse tempo, em algum lugar não longe de você alguém está sofrendo. Muitas pessoas estão sofrendo. E muitas pessoas estão se colocando na linha para aliviar esse sofrimento. É bem intenso.
Com certeza. Bem, queria te perguntar sobre o disco novo. Minha música favorita é “Eternal summer”.
A minha também. Bem, talvez seja minha segunda favorita.
Qual é a primeira?
At the door.
O que você gosta dessa música?
Acho que é o máximo que nos distanciamos de nós mesmos ainda mantendo nosso DNA.
Como foi pra você o processo de escrever e gravar as músicas? Quanto tempo levou?
Foi um longo processo. Começamos com demos aqui em Nova Iorque, enviamos as demos para Rick Rubin pra ele ver se gostaria de trabalhar nessas músicas. Queríamos mostrar algum material pra ele. Ele disse “sim” e então passou um tempo até que fomos ao seu estúdio. Ele nos encorajou a tocar livremente toda manhã pra ver o que ia sair de nós juntos nesse lugar, sequestrados nesse lugar chamado Shangri-La. A maioria das músicas veio disso, de nós tocando e construindo uma ideia. Foi muito legal como ele sabia revigorar a banda, ele precisava que fôssemos uma banda de novo, no mesmo lugar, só tocando e não nos preocupando muito com “escrever uma música” ou “partes”, mas só sentindo a sintonia um do outro.
É uma abordagem legal. Quando aconteceu isso? Quando vocês fizeram a maior parte?
Foi há um tempo. O passado é uma névoa lamacenta, cara, eu nem sei como juntar tudo. Foi há muito tempo, mesmo. Levamos um tempo pra terminar.
Havia algo específico que você queria fazer com a bateria pro disco novo? Você tinha alguma ideia do que queria alcançar?
Não, porque estávamos realmente meio que navegando nessa interação, sabe? Como nos alimentando do momento. Com a banda, temos uma história de tocar os instrumentos uns dos outros e fazer partes uns pros outros, mas nesse caso, só ficamos nos nossos postos e seguimos a sintonia. Acho que ter Rick ali como o capitão, quem todos queríamos respeitar…não temer, mas tipo, sabe o modo como alguém teme algo maior que a si mesmo? Como Kierkegaard “Fear and Trembling”. Precisamos prestar homenagem a ele e ouvi-lo. E confiar nele. E com certeza, ele foi uma força orientadora que nos fez congelar.
O que você pode falar sobre fazer música naquele lugar, em Shangri-La? É um estúdio lendário. Você já tinha trabalhado lá antes?
Nunca. Eu nunca tinha nem encontrado Rick, então a primeira coisa foi entrar lá e ficar nervoso por conhecê-lo. Você entra, e é essa casa caiada de branco com longos corredores; você está entrando num lugar alterado. Você olha em volta e vê todos esses instrumentos, e as pessoas que trabalham lá te dizem que você “pode tocar qualquer instrumento que gostar. Tudo está disponível.” Então você se dá conta de que está segurando uma guitarra dos anos 30 e tudo é sagrado, e tem um ônibus nos fundos que foi o ônibus de turnê de Dylan. É tudo tão mágico. “The Last Waltz” foi filmado e gravado lá. Foi muito legal.
Estou imaginando vocês nos seus postos, e presumo que pra você, você quer dizer a bateria – o que você diria que é mais único ou mais diferente de tocar bateria nesse novo disco comparado ao que fez no passado?
Bem, eu tinha uma visão muito clara dos pés de Rick de onde eu estava. Ele estava sempre lá, do meio dia às sete, o que eu não esperava; ele estava bem envolvido. E tocávamos e víamos seus pés batendo no ritmo. E então, eu tentava algo mais complicado ou mais sofisticado e olharia pra seus pés e eles paravam imediatamente. Comecei a me treinar a tocar o que fizesse seus pés acompanharem; menos sobre tocar algo sofisticado e mais sobre fazer seus pés acompanharem. Foi muito mais sobre o ritmo que tentar tocar furiosamente.
Tem que ser sobre a música! Então, já se passaram 7 anos do último lançamento dos Strokes – o gosto e a compreensão da música está fadado a mudar nesse tempo… como você diria que seu pensamento sobre música mudou desde o último disco, e como influenciou suas contribuições para as músicas novas?
Na época eu estava fazendo música em casa, e fazer as coisas sozinho se tornou cada vez mais fácil… você começa nesse caminho sentindo que pode fazer tudo sozinho… tudo está acessível, cada som, se você está disposto a pagar o bastante, você pode ter. você fica fascinado por isso por um tempo e começa a escrever música… mas é de certo modo influenciado por isso…senti que alcancei um ponto em que descobri que minha solidão não era mais benéfica, e senti falta da influência dos meus compatriotas, meus companheiros músicos. Não que fazer música sozinho não seja divertido e recompensador, mas há com certeza um limite que você atinge, pelo menos eu tive, que você sabe que não pode ir mais além sozinho. Foi legal voltar a um estúdio depois de tanto tempo…na verdade, provavelmente se tivéssemos continuado, eu teria considerado isso como algo garantido, mas depois de parar por tanto tempo, voltar pra essas pessoas que me entendem, não só isso, mas nos entendemos num nível subconsciente. Nos alimentamos uns dos outros sem nem saber como. É algo raro e muito precioso.
Sim, é verdade. Que idade vocês tinham quando começaram a tocar juntos?
A primeira vez que toquei com Nick, tinha 13 anos. E então Julian e eu começamos a tocar juntos pouco depois. Acho que no nosso primeiro show, eu tinha 15 anos.
É uma vida inteira fazendo música juntos. É muito valioso mesmo. Quando ouço o novo disco, há sons e batidas que me lembram música dos anos 1980. Qual sua conexão com música dessa época? Como essa época influenciou esse novo disco, pra você?
Acho, não é como se estivéssemos almejando aquele estilo, mas acho que algumas vezes acabamos lá por causa da nostalgia da época. Éramos todos crianças. Acho que estávamos formando nossa opinião musical sem nem mesmo saber. É tipo uma cor com a qual pintamos e que evoca uma certa nostalgia, como uma cama para uma melodia, ou uma sensação. Em termos práticos, não é como se eu pessoalmente tivesse buscado inspiração nos bateristas dos anos 1980 – embora Phill Collins seja incrível. Ele é alguém que tenho como exemplo do que quero ser: alguém que pode fazer música tão bem quanto pode tocar bateria. E vice versa.
Também queria te parabenizar pelo seu novo disco com a Machinegum, Conduit. Estive ouvindo recentemente e o que vocês fizeram com a exibição de arte foi muito legal. O que te empolga mais nesse projeto e como a forma com que você aborda aquelas músicas se compara, artisticamente, à forma como você aborda seu papel nos Strokes?

Sabe como estava te contando que fazia música sozinho na minha cozinha? Era sobre machinegum. É quase como uma chaminé pela qual posso extrair minhas emoções, ou exercitar minha personalidade. Porque quando levo uma melodia pros Strokes, tenho tanta fé nas letras do Julian, que não levo as minhas. É o trabalho dele. É realmente muito divertido levar uma melodia e ver como ele responde liricamente a ela. Mas há uma parte de mim que quer expressar as coisas liricamente também, então Machinegum se tornou meu escape para isso.
O que me anima no futuro, é que talvez eu possa cultivá-lo de forma que se torne independente de mim. Estou tentando construir, ou pelo menos tentando pensar num modo de construir, um palco onde músico e ouvinte podem ter uma relação recíproca. Quero fazer arte com pessoas que não conheço. Quero que esteja tudo sob Machinegum. Parece um futuro empolgante. Fizemos um vídeo recentemente, que ainda não foi lançado, que começamos antes do corona vírus, e pedimos às pessoas para agir de acordo com algumas orientações que demos, pra mostrar essa comunidade ao redor do globo. Sinto que agora mais que nunca, temos tanto poder e tecnologia na mente coletiva e estamos exercitando novas e ousadas maneiras de expressar isso por causa dos limites desse tempo tão triste. É um momento exuberante para ideias…esperançosamente você é parte da Machinegum, sabe?
Acho que é uma ideia nova, e apoio 100%. Tenho mais uma pergunta: o que tem te inspirado recentemente no mundo da arte, sendo música ou qualquer coisa…?
Sim, quer dizer, é meio que o que não é inspirador nesses dias? Mas, recentemente fiz uma colaboração com Sotheby’s, em que fiz curadoria desse processo de observar pinturas. Estava centrado nos mesmos princípios, a importância do individual, mas também o individual num coletivo, ou grupo. Construí esse labirinto, que comprometia a vista das pinturas, e você só poderia ver tudo se estivesse sozinho, e teria esse momento para realmente observar a pintura, e ter um momento de calma…te permitir um momento de calma com a arte… é bem inspirador.

Entrevista: Charlie Weinmann
Foto: Jason McDonald