The New Abnormal

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Tradução: A Reinvenção radical de Julian Casablancas – Rolling Stone

A Reinvenção radical de Julian Casablancas. O líder dos Strokes fala sobre estar sóbrio, política de esquerda e seu disco selvagem com uma nova banda
Por Patrick Doyle, 15 de outubro de 2014

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Foto por Colin Lane

 

“Esse lugar é muito legal”, diz Julian Casablancas. É uma noite de fim de verão, e o líder dos Strokes está visitando uma loja de discos a poucos quarteirões de seu apartamento no Lower East Side. Há um rato branco empoleirado no ombro da mulher de cabelos espetados perto do caixa, e Jimy Cliff está tocando. Casablancas está folheando uma cópia de How the World Works, de Noam Chomsky, e nota um livro sobre CBGB, o histórico clube punk que fechou em 2006. “Estávamos para tocar ‘Modern Age’ pela primeira vez, e o cara do som nos deixou de fora”, ele diz, se referindo ao show dos Strokes em 2000. “Eles eram babacas. Quero dizer, o lugar é obviamente lendário, mas eu não chorei por ele quando fechou. Sou mais, ‘apenas abra um na Times Square’.”

Os dias dos Strokes em clubes não duraram muito: No ano seguinte ao CBGB, a banda de Casablancas revigorou o rock de Nova Iorque com seu álbum de estreia, Is This It, e pavimentou o caminho para uma geração de roqueiros desde Black Keys a Arctic Monkeys. (“Eles abriram as portas pra nós, porque começamos a ser chamados para clubes por sermos uma banda de garagem,” disse Dan Auerbach, dos Keys). Casablancas se tornaria famoso como a personificação inexpressiva e elegantemente desperdiçada do cool de Nova Iorque. Esses dias, contudo, ele está sóbrio, casado e pai de um garoto de quatro anos, Cal, e passa a maior parte do seu tempo em sua casa ao norte de Nova Iorque. Quando ele fica acordado até tarde, ele poderia estar anotando passagens de A people’s History of the United States, de Howard Zinn ou checando websites de esquerda como Truthout e Truthdig. “Qualquer coisa com a palavra ‘verdade’, estou dentro”, ele diz com um sorriso.

Ele também acabou de completar seu novo disco solo, Tyranny, lançado sob seu próprio selo, em que ele é acompanhado de uma banda chamada The Voidz. O álbum é musicalmente denso e carregado de política. Está bem longe das melodias afiadas dos Strokes, e Casablancas está claramente OK com isso. “Esse é o destino final – esse disco é o que eu venho querendo fazer desde o primeiro disco,” ele diz, se referindo ao seu disco de estreia solo, Phrazes for the Young. “Eu estava faminto para tentar inspirar algo tão grande, se não maior [que Strokes], mas com mais significado. Sabe? Especialmente agora que estou um pouco mais velho.”

Usando jeans rasgados e uma jaqueta, Casablancas está acessivelmente discreto. Na conversa, ele é entusiasta e fervoroso, genialmente firme em questões como neutralidade da internet e parcialidade da imprensa. “Ele é extremamente afável e extrovertido esses dias” diz o empresário de longa data dos Strokes, Ryan Gentles. “Não estou falando sobre o cara que conheci. Estou falando de agora: o Julian sóbrio, maduro, crescido e pai.”

Enquanto Casablancas deixa a loja de livros, ele coloca cinco dólares numa jarra de doações e dirige-se para a rua. Durante as horas seguintes, ele será abordado por um casal de fãs que o tratam como a um velho amigo. Num ponto, um cara carregando um skate e usando um boné de baseball diz que adora sua música nova com The Voidz. “Obrigado, cara!” Casablancas diz. Alguns momentos depois ele adiciona, “Aquele cara tem um estilo legal”.

Parte da mística dos Strokes vem de um glamour percebido em sua escola particular de Manhattan. Muitas histórias sobre a banda apontam que o pai de Julian, John Casablancas, foi o fundador da Elite Model Management, que teve supermodelos como Cindy Crawford e Naomi Campbell. Seus pais se divorciaram quando ele tinha oito anos. Sua relação com John era controversa, e Julian já estava bebendo muito quando estava no ensino médio, que acabou abandonando. “Ele era um cara charmoso, além do padrão”, Casablancas diz sobre seu pai, que morreu ano passado. “Acho que sempre quis ser mais próximo dele. O que se traduziu em rebeldia adolescente.”

Ele era mais próximo de seu padrasto, o artista e acadêmico Sam Adoquei, que cresceu em Gana e introduziu Casablancas à música do radical Nigeriano, titã do funk, Fela Kuti. Adoquei moldou a visão de Casablancas sobre arte e música durante sua carreira, até mesmo oferecendo sugestões sobre as músicas. (Casablancas teve um papel na arte de seu padrasto, também. O livro de Adoquei de 2001, Origin of Inspiration, um tratado sobre a melhor forma de ter uma vida criativa, está cheio de ideias que ele tentava experimentar em Casablancas. “Eu disse a Julian uma vez que escrevi o livro porque ele saiu e se tornou ocupado, e o garoto com quem eu estava dividindo minhas ideias não estava mais lá”, disse Adoquei). Seu padrasto ainda faz críticas ao trabalho de Casablancas, algumas vezes aquelas difíceis. “Ele vai dizer às vezes, ‘Você pode não gostar’,” Adoquei disse. “Eu sou duro com arte sucateada”.

Tyranny incorpora tudo desde o ritmo do punk hardcore africano aos solos de metal e vozes robóticas. “Nós ouvimos músicas do mundo e uma canção metal, e queríamos preencher essas lacunas,” Casablancas diz. O processo de escrita foi emocional muitas vezes: o pai de Julian morreu enquanto seu filho escrevia canções para Tyranny. A faixa de 11 minutos Human Sadness parece se dirigir a algo dessa dor quando Casablancas ecoa o poeta Rumi: “Beyond all ideas of right and wrong there is a field/I will be meeting you there.” Julian disse “Foi intenso. Mesmo se você não é próximo do seu pai, quando ele se vai, é como se o teto fosse arrancado da sua casa”.

Casablancas e The Voidz levaram mais de dois anos escrevendo o álbum, e gravaram em sete meses num estúdio acima da Strank Bookstore, em Nova Iorque, trabalhando das sete da manhã até o fim do dia. “Achei que eu era perfeccionista até que eu conheci Julian”, disse o baixista Jake Bercovici. “Acho que levamos vinte dias procurando um tom de teclado.”

Casablancas lutou para chegar a esse ponto. Depois do sucesso inicial dos Strokes, a diversão juvenil associada com a banda evoluiu para um sério problema alcoólico para Casablancas. Ele chegou ao ponto de beber vodca pela manhã. “Eu era charmoso provavelmente dez por cento do tempo, quando tinha um som de fundo perfeito,” diz ele sobre seus dias de bebedeira. “Você pensa ‘Sou corajoso e estou louco e quero beber’. Mas é como ‘Não posso falar socialmente com as pessoas sem ter uma estúpida falsa confiança que é desagradável.’ Você acha que é como o soro da verdade, mas é mais como o soro da babaquice.”

Ele começou um longo período de recuperação. “Estava de ressaca por, tipo, cinco anos. Como, literalmente quatro anos depois de parar de beber, ainda não me sentia 100 por cento.

Ainda tinha a sensação de estar um pouco de ressaca, e você apenas não quer sair e não quer ficar em casa. Me sentia realmente desgastado por isso.”

Em 2009, ele lançou seu disco solo de estreia, compondo as músicas no seu computador, em seu apartamento. Ao mesmo tempo, deu um passo atrás em seu papel de líder dos Strokes, cedendo mais controle da composição das músicas, “mantendo a paz”, ele diz. O resultado, como pode ser ouvido nos dois últimos álbuns, Angles de 2011 e Comedown Machine, de 2013, não tinham o gancho e o impacto emocional dos três primeiros álbuns. “Talvez eu não fosse como o punho-de-ferro que tinha sido no passado, mas isso foi de propósito.” “Porque aquilo criou todas essas questões [com os outros membros dos Strokes]. Eu não queria brigar ou discutir. Era como, ‘Você acha melhor de outra forma? Ótimo’.”

Ao longo de tudo isso, os Strokes permaneceram como um grande e amado atrativo em shows. Fãs voaram de todo o mundo para vê-los tocar pela primeira vez em três anos no Capitol Theatre, em Port Chester, no último maio. “Estava quase chorando”, disse Gentles, “Eu devo ter perdido um total de 12 shows dos Strokes, e esse foi o melhor que eu vi”. Na semana seguinte, eles tocaram no Governors Ball Festival em Nova Iorque, para o maior público do fim de semana. (Depois que a banda terminou, a multidão visivelmente se dizimou para o headliner Jack White).

No mesmo dia da parada na loja de livros, Casablancas está jantando – uma salada de abacate num restaurante dominicano onde ele também almoçou – e pensando sobre as emoções conflitantes trazidas pela banda e sua fama contínua.

“É uma sensação de humildade e validação, de que você está fazendo algumas coisas certas”, ele diz sobre Strokes. “Mas é a mesma coisa com um ator: se um filme vai muito bem na bilheteria, eles fazem dez depois daquele porque acham que é o que as pessoas gostam… se algo tem valor comercial, não quer dizer que é bom”.

Na noite anterior ao lançamento de Tyranny, a banda fez um show secreto num loft no Brooklyn com o nome de Rawk Hawks. Quando souberam quem estava tocando, uma aglomeração de fãs tomou o pequeno espaço. Usando uma jaqueta grande do New York Jets apesar do calor sufocante da sala, Casablancas ataca o microfone e uiva suas novas canções agressivas. O som é anos-luz dos Strokes, mas as garotas gritam a cada gesto seu e as pessoas pedem que ele mude seus vocais.

Por enquanto, Casablancas vai ter que assumir o controle de uma arena com sua banda original. “Ainda é divertido ver as pessoas reagirem”, ele diz sobre os recentes shows dos Strokes. “Mas emocionalmente eu sinto algo sobre isso? Não. Como há pouco tempo, vi alguém fazer um cover de alguma das músicas do top 40 num bar vazio, como se ele tivesse aprendido provavelmente dois dias antes. Ele estava apreciando aquilo mais que eu quando toco ‘Last Nite’. Eu só sorri.”

Fonte: Rolling Stone

Tradução: Equipe TSBR